Quando o símbolo é usado como isca – A distorção de Jung e da física quântica
- Ana Cristina Lamas
- 23 de jun.
- 2 min de leitura

Vivemos em uma época onde símbolos são consumidos, não compreendidos. Basta citar Jung ou a física quântica para que uma ideia ganhe imediatamente uma “aura de profundidade”, mesmo que o que esteja sendo dito não tenha lastro nem simbólico, nem científico.
É comum ver frases como:
“Você colapsa a realidade com seu pensamento.” “Sua consciência atrai o que vibra.” “A física quântica já comprovou que somos energia.”
Na superfície, parecem sofisticadas. Mas quando olhamos com cuidado, o que vemos é um uso vazio de conceitos complexos, transformados em ganchos de marketing emocional.
O mesmo acontece com a psicologia analítica: Citam Jung para justificar fórmulas mágicas de autoconhecimento, como se o processo de individuação fosse algo que se compra por módulos. Transformam arquétipos em estereótipos. Falam em sombra, anima, self — sem nunca ter encarado a própria face não vista.
Mas símbolo não é decoração. E ciência não é acessório espiritual.
O problema não está em misturar espiritualidade e ciência — está em usar mal ambos os lados
Carl Jung acreditava em Deus, não como dogma, mas como experiência arquetípica legítima. Leonardo Sioufi, físico, também afirma sua fé. E nem por isso deturpa a linguagem da física para alimentar ilusões.
A questão não é acreditar em algo maior. A questão é quando esse “algo maior” é usado como escudo para evitar o trabalho interno real.
Porque o trabalho real exige atravessar a dor, a dúvida, a confusão, a responsabilidade. Não oferece promessas rápidas. Não garante resultados mensuráveis. Não vende “saltos quânticos”.
A distorção acontece quando o símbolo vira ferramenta de persuasão.
Quando a linguagem simbólica é usada como iscas para convencer, e não como portais para transformação. Quando a ciência é invocada para dar aparência de verdade, sem compromisso com a profundidade.
É aí que o discurso se descola da alma e se torna manipulação.
Meu compromisso como terapeuta é outro
Não estou aqui para te dar respostas prontas. Nem para enfeitar frases com palavras bonitas. Estou aqui para sustentar um processo que é profundo, artesanal e simbólico. Que exige tempo, presença e escuta. E que, por isso mesmo, transforma.
Se esse texto tocou algo em você, ótimo. Mas o mais importante não é o que ele te fez pensar. É o que ele te convida a atravessar.
Com carinho e respeito,
Ana Cristina | Psicóloga junguiana
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