top of page

Quando o Self atravessa galáxias: uma leitura simbólica de Interestelar

  • Foto do escritor: Ana Cristina Lamas
    Ana Cristina Lamas
  • 25 de abr
  • 2 min de leitura

Fonte: PixaBay
Fonte: PixaBay

Quando assisti Interestelar, não vi apenas um filme: vi uma metáfora da alma. A jornada através do tempo e do espaço não era apenas ficção científica, mas a imagem viva do que ocorre em nós quando somos tocados pelo Self — esse centro regulador da psique, que nos chama para o que está além da consciência habitual.


Aquela música crescente, que pulsa como se fosse um coração do universo, despertou em mim algo inominável. Senti uma emoção tamanha, uma reverência tão profunda, que fui tomada por uma certeza: é uma honra poder acompanhar pessoas em seus processos de reconexão com esse algo maior. Aquilo que Jung chamou de Self, os alquimistas de Unus Mundus, e que a física hoje sugere como uma ordem não-local da realidade.


Interestelar fala de gravidade, mas para mim falou de amor como força gravitacional da alma. O amor que ultrapassa distâncias, que se move entre dimensões, que desafia o tempo linear — o tempo de Kronos — e opera no tempo do Kairós. Aquele tempo em que tudo se revela, mesmo que o ego não compreenda.


Em um dos momentos mais simbólicos, quando Cooper mergulha no buraco negro e vai parar no tesseract, tive a sensação de que ele adentrava o inconsciente profundo. O buraco negro, que para muitos representa aniquilação, ali se revelou como portal para um campo maior, onde tudo está conectado por fios invisíveis de significado. Como se o Self, ao atravessar o centro da dor, o centro da perda, o centro do desconhecido, nos levasse ao lugar onde tempo, memória e afeto se entrelaçam.


Ao final do filme, fui invadida por uma emoção imensa e, em seguida, por um vazio. Porque aquilo tudo era real demais para ser apenas ficção. E porque, naquela época, eu não tinha com quem partilhar a dimensão simbólica do que senti. Era como se tivesse tocado uma verdade da alma que o mundo ao redor ainda não conseguia nomear.


Hoje, com os olhos mais despertos para o tempo da alma, compreendo que Interestelar revelou para mim uma das faces do Self: sua capacidade de nos colocar em contato com o incompreensível, e ainda assim deixar uma marca de certeza.


Aquela emoção me ensinou que o tempo é relativo, sim. Que a alma pode viver décadas em alguns meses. Que não é preciso ver para saber. E que a verdadeira gravidade que nos move é o chamado do Self, esse centro vivo que pulsa mesmo quando tudo parece colapsar ao redor.

Interestelar, como toda obra verdadeiramente simbólica, não explica — revela. E talvez seja por isso que doeu tanto: porque reconheci ali o meu caminho.


E nele, a responsabilidade de estar presente para quem também ousa atravessar buracos negros da alma em busca de sentido.


Com carinho,


Ana Cristina.

Psicóloga junguiana.

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page