Os mitos da felicidade que nos tornam infelizes
- Ana Cristina Lamas

- 1 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de mai.
Entre o sol e a sombra: o que a alma tem a nos dizer
Vivemos sob um feitiço moderno: o de que a felicidade é um estado permanente a ser conquistado — e mantido a qualquer custo.
Mas esse encantamento cobra um preço alto: exige que escondamos nossas tristezas, silenciemos nossas angústias e coloquemos um sorriso no rosto, mesmo quando a alma grita.

A felicidade virou um ideal mítico — não mais um estado que vem e vai, mas um produto de consumo, uma marca de sucesso, uma meta a ser atingida. E, com isso, a tristeza se tornou um erro. O sofrimento, uma falha. A dor, um sinal de fracasso.
Mas Jung nos lembra:
“O objetivo da psicoterapia não é transportar o paciente para um estado irreal de felicidade, mas ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida exige pelo menos tanto sofrimento quanto felicidade.”
Na linguagem simbólica da psique, felicidade e tristeza não são opostos inimigos — são forças complementares. Como o dia e a noite, como o verão e o inverno. Uma só existe em contraste com a outra. Tentar viver apenas na luz é negar a fertilidade da sombra.
Na psicoterapia profunda, especialmente na abordagem junguiana, não buscamos “consertar” a pessoa para que ela se sinta feliz o tempo todo. Isso seria desumanizante. O que buscamos é autenticidade: a capacidade de se ouvir, de sustentar as próprias dores sem se afundar nelas, e de reconhecer a alegria quando ela chega — sem exigir que ela fique para sempre.
Muitos dos discursos atuais, mesmo os bem-intencionados, acabam fortalecendo esse mito disfuncional.
Prometem fórmulas, reprogramações, afirmações que te levariam a um estado constante de bem-estar.
Mas a alma não trabalha com fórmulas. Ela trabalha com processos, com ciclos, com simbolismos.
E a felicidade verdadeira não é um lugar onde se chega — é um movimento, uma dança entre a vulnerabilidade e a potência.
Aceitar a tristeza é um ato de maturidade psíquica. Não como resignação, mas como acolhimento. Porque aquilo que hoje dói pode estar revelando exatamente onde a alma ainda pulsa.
E é aí que a felicidade — aquela que não precisa ser provada — começa a brotar, silenciosa, firme e real.
"Se sua busca por felicidade tem te afastado de si mesmo, talvez não seja felicidade o que esteja procurando — mas um reencontro com a inteireza perdida."
Se este texto tocou algo em você, talvez seja hora de ouvir o que sua alma tem a dizer. A psicoterapia pode ser o início desse reencontro.
Com carinho,
Ana Cristina
Psicóloga junguiana.






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