O silêncio dos pais: o risco invisível da proteção aparente
- Ana Cristina Lamas

- 6 de mai.
- 2 min de leitura
Durante muito tempo, acreditamos que proteger era sinônimo de manter por perto. Que a casa oferecia segurança, e que estar sob o mesmo teto era suficiente para garantir que nada de grave acontecesse. Mas os tempos mudaram. E com eles, mudou também a natureza do perigo.
Hoje, os maiores riscos não entram pela porta da frente — eles se infiltram pelas frestas
simbólicas da casa. Invisíveis, silenciosos, travestidos de liberdade ou pertencimento, assumem a forma de comunidades digitais, discursos radicais ou identificações precoces. E é nesse terreno invisível que muitas crianças e adolescentes estão sendo capturados.
O problema é que, ao mesmo tempo em que esse novo cenário se expande, cresce também o discurso que desautoriza os pais. Se você não viveu a dor do seu filho, não pode opinar. Se você é de outra geração, não entende. Se você questiona, está reprimindo. E assim, o que era cuidado se transforma em censura — e a presença se torna indesejada.
Mas o abandono simbólico tem consequências. Quando os pais são silenciados, o adolescente não se torna livre — ele se torna órfão. Sem referência, sem contraponto, sem limites afetivos.
A autoridade que não é exercida com presença simbólica será ocupada por algo ou alguém. E muitas vezes, o que assume esse papel são influenciadores, ideologias sem contorno, ou grupos online que se apresentam como família — mas sem o amor que educa.
É preciso restaurar o valor da escuta entre pais e filhos. Uma escuta que não tem todas as respostas, mas que ousa perguntar. Que não impõe o passado, mas também não nega sua experiência. Porque o verdadeiro diálogo entre gerações é alquímico: transforma o velho em sabedoria e o novo em potência.
A casa continua sendo o lugar mais importante —Mas não pelo muro que a cerca.E sim pela alma que a habita.
Com carinho,
Ana Cristina.
Psicóloga junguiana







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