O que o inconsciente revela (mesmo quando tentamos esconder)
- Ana Cristina Lamas

- 16 de abr
- 2 min de leitura

Existe um equívoco silencioso que muitos de nós carregamos: o de que conseguimos esconder nossos sentimentos mais profundos. Acreditamos que, se não falarmos, se não mostrarmos, se negarmos até para nós mesmos, eles deixarão de existir — ou ao menos passarão despercebidos. Mas o inconsciente não compactua com esse pacto de silêncio.
Ele fala. Sempre fala.
Uma mulher me relatou algo que exemplifica bem essa dinâmica. Falava sobre uma conhecida, a quem chamarei aqui de Lola. Disse que Lola tenta, a todo custo, disfarçar o modo como se sente. Sorriso no rosto, tom de voz gentil, postura controlada. Mas quem convive com ela percebe.
Percebe que por trás da polidez há um sentimento de superioridade que escapa pelos poros, pelos gestos, pelos olhares — e que isso, curiosamente, é justamente o que ela mais teme que vejam.
Essa é uma das grandes ironias da psique: quanto mais nos esforçamos para esconder algo, mais isso se revela. Quanto mais negamos, mais projetamos. E ao tentar se colocar acima, Lola desperta nos outros aquilo que ela própria tenta evitar: uma resposta inconsciente que ativa o orgulho ferido, a inferioridade recalcada, e com isso instala-se o ciclo de reações — onde todos parecem se defender de algo que nem sabem ao certo nomear.
Mas o que está acontecendo, no fundo, é que os inconscientes estão conversando. Estão em diálogo, mesmo que seus donos não saibam. Essa comunicação silenciosa não se dá por palavras, mas por vibrações sutis, por sensações, por microexpressões e energias que atravessam o campo relacional.
E se aprendemos a não notar — a viver apenas na superfície — isso não significa que as coisas não estejam acontecendo. Tudo está ali, revelado nas entrelinhas do afeto, nas pequenas contrações do rosto, na sensação inexplicável de desconforto ao lado de alguém.
A verdade é que temos tudo de tudo em nós. Os sentimentos que tanto criticamos — arrogância, inveja, vitimismo — todos moram, de algum modo, dentro da psique humana. E é por isso que eles nos impactam tanto quando os vemos no outro: porque tocam o que ainda não integramos em nós.
O processo de individuação começa quando reconhecemos que não somos só a persona bem-comportada que mostramos ao mundo, mas também a sombra que tentamos esconder — e que ela se revela mesmo quando não queremos. Ou, talvez, sobretudo quando não queremos. Mas é aí que percebemos o movimento do inconsciente.
Você já se deu conta de que aquilo que tenta esconder é justamente o que mais se evidencia?E Se em vez de esconder, você decidisse escutar?
Com carinho,
Ana Cristina.
Psicóloga junguiana






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