Individuar-se: o ato silencioso de revolucionar-se
- Ana Cristina Lamas

- 20 de abr.
- 2 min de leitura

Percorrer o caminho interno e oferecer essa possibilidade ao outro é, sim, um ato de rebeldia frente ao sistema. É nadar contra a corrente do que já está cristalizado — não apenas no mundo externo, mas nas estruturas internas das pessoas, nas crenças, nas convenções sobre o que é "normal", "certo" ou "suficiente".Percorrer o caminho interno e oferecê-lo ao mundo é, em sua essência, um ato de rebeldia silenciosa. É sair do território conhecido — onde tudo já está estabelecido e normatizado — para cultivar uma nova visão, uma nova postura diante da vida: uma postura questionadora, reflexiva, viva.
Individuar-se é não aceitar sem pensar, sem sentir, sem dialogar com a própria alma.É recusar a ideia de que "é assim mesmo" e abrir espaço para enxergar o que não é óbvio, o que não é dito, o que não é imposto.
Por isso, Jung foi atacado porque não apenas propôs uma nova teoria, mas porque chamou as pessoas a olharem para dentro, a não aceitarem o discurso pronto, nem o da ciência, nem o da religião, nem o da sociedade — mas a travarem o seu próprio diálogo com o mistério que habita dentro delas. Isso desestabiliza todo o sistema de controle, porque um ser humano que pensa, sente e se reconhece como uma totalidade viva não é manipulável e uma travessia íntima não pode ser comandada de fora.
Individuar-se é revolucionar-se silenciosamente.
É deixar de ser apenas um produto da coletividade para tornar-se uma centelha viva da própria existência. É enxergar o que o sistema não quer que se veja: que não estamos aqui para apenas funcionar, mas para viver a inteireza do que somos, com todas as contradições, luzes e sombras.
Esse processo, porém, não é simples. Ao tentar oferecer esse caminho aos outros, sentimos a resistência — não só pessoal, mas coletiva.Pois o inconsciente teme a liberdade, teme a responsabilidade que vem com ela.
Mas ainda assim, uma semente desperta onde é plantada.E o simples fato de ser fiel a esse chamado já ilumina novos caminhos, não apenas para si, mas também para aqueles que, em algum momento, sentirem o sopro dessa mesma busca.
É muito mais do que um trabalho psicológico — é quase um ato alquímico, de transformação da matéria bruta da psique em algo consciente, luminoso, real.
Que possamos continuar — com coragem, ternura e gratidão —a cultivar o que ainda não é visível, mas já é vivo.
Com carinho,
Ana Cristina.
Psicologa junguiana






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