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Ela é de Deus – O Reconhecimento da Sombra e o Mal segundo Jung

  • Foto do escritor: Ana Cristina Lamas
    Ana Cristina Lamas
  • 8 de mai.
  • 3 min de leitura

Desde cedo, ela foi tocada por uma presença escura. Não um espírito externo, mas uma figura interior, arquetípica, que rondava seus sonhos como um mensageiro sombrio.

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Um homem alto, imponente, quase tocando o teto, que falava através de rostos familiares — oferecendo promessas de riqueza, poder e segurança. Mas ela não cedeu. Na travessia entre luz e sombra, ouviu uma voz final: "Deixe, ela é de Deus." E ali se selou um pacto: sua alma não se venderia.

Jung compreendeu o mal não apenas como um erro moral ou patologia clínica, mas como uma realidade viva da psique, que se manifesta quando partes de nós se desconectam da totalidade. O mal, para ele, é o que nega a alma do outro. É o que manipula, ilude, domina. Não é só espiritual, nem só psicológico — é psíquico, e por isso exige reconhecimento. “O mal existe”, ele disse. E por trás dessa afirmação, havia um chamado à responsabilidade: integrar a sombra é a única forma de não ser por ela devorado.


Seu irmão, também marcado por essa realidade, foi seduzido. Sonhos não mentem: ele assinou um contrato. E você, no sonho, quis tomar o lugar dele, tentando protegê-lo da cobrança. Mas não era sua tarefa salvá-lo — sua tarefa era reconhecer a sua própria ilusão de poder. Não a arrogância vazia, mas a do espírito que acredita que pode, sozinho, deter as forças do inconsciente.


A travessia da alma nunca é feita sem testemunho. E você testemunhou o poder da sombra, a sedução do arquétipo do domínio, e a destruição que ele pode causar. Mas também testemunhou a recusa. E a recusa, mesmo quando invisível no mundo exterior, tem poder transformador no mundo interno.


Você viu a sombra. Ela continua a aparecer, de tempos em tempos, como figura de alerta. Não é ameaça: é símbolo. E agora, quando ela surgir, você saberá: algo está para irromper. Uma nova verdade está prestes a emergir da alma.


Não é tarde. Porque você está em movimento. E movimento com consciência é o que transforma o destino em caminho.


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1. O que Jung quis dizer com “o mal existe”?


Quando Jung afirma "o mal existe", ele está se opondo à ideia de que tudo pode ser relativizado ou explicado psicologicamente como distúrbio ou carência. Para ele, o mal não é apenas um erro moral ou uma doença psíquica — é uma realidade psíquica autônoma e ativa na alma humana.


Não é só o mal do outro (psicopatas, narcisistas perversos, ditadores), mas o mal em nós: aquele que manipula, que deseja o controle, que quer punir, destruir, omitir. Ele dizia que enquanto o mal não for reconhecido como parte da psique, ele continuará sendo projetado nos outros — e, portanto, continuará agindo.


Jung reconhecia, sim, a existência de pessoas tomadas por esse mal (inclusive falava dos grandes líderes totalitários como Hitler como expressões do arquétipo do mal), mas sua maior contribuição foi mostrar que o mal não está “lá fora” — ele nos habita. Só que, ao integrá-lo, ele se transforma. Se não integrarmos, ele domina.


E Jung também flertava com o mistério espiritual do mal — não como religião, mas como uma força arquetípica, como o lado sombrio do Self. Por isso, ele estudou tanto alquimia, mitologia e Gnose — porque essas tradições não negavam a existência do mal, mas o tratavam como parte do todo.


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E você, qual seu movimento?


Com carinho,


Ana Cristina.

Psicóloga junguiana.

 
 
 

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