Criar em Tempos de Guerra
- Ana Cristina Lamas

- 23 de abr.
- 2 min de leitura

Há momentos em que a alma se encontra em trincheiras.Não trincheiras externas, mas cavadas no solo profundo do mundo interno. É quando tudo ao redor parece ruído, confusão, batalha...E mesmo assim — ou justamente por isso — algo em nós decide criar.
Sonhei que fazia pirulitos em forma de livros infantis, enquanto bombas invisíveis caíam no silêncio de uma guerra antiga. Ao meu lado, um soldado gentil, calado, de olhos doces. Ele não carregava armas, carregava cuidado. Era meu aliado na tarefa de criar doçura em meio ao caos.
Os livros brilhavam por dentro. Cada página carregava um alento, um fragmento de infância resgatada, um ensinamento moldado em açúcar e símbolo.E quando eu queria vê-los melhor, bastava fechar os olhos: a cena se revelava em luz, mesmo sendo noite.
Há um lugar dentro de nós onde o tempo da guerra não cala a voz da criação.Nesse lugar, o inconsciente não dorme — ele sussurra, molda, colore, escreve.E mesmo que a realidade pareça dura, seca, ou insuportável, há uma chama que insiste em transformar dor em beleza, perda em símbolo, escassez em sentido.
Esse soldado que apareceu no sonho talvez represente o animus curador — o masculino interno que não fere, mas protege.A parte que nos diz: "Você pode continuar criando, mesmo quando tudo parece ruir."
Vivemos, muitas vezes, tentando vencer guerras que nem são nossas.Mas talvez a tarefa verdadeira não seja lutar, e sim resgatar a criança alquimista que vive em nós, aquela que sabe transformar livros em pirulitos, palavras em cura, sombras em brilho.
Você já parou para perguntar: O que em mim continua criando, mesmo em meio à dor?
Pode ser aí que esteja sua mais pura centelha.
Com carinho,
Ana Cristina.
Psicóloga junguiana






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