A armadilha da boazinha: quando a sombra se veste de virtude
- Ana Cristina Lamas

- 18 de mai.
- 2 min de leitura
Você já se pegou dizendo "sim" quando queria dizer "não"? Já sentiu o peso de agradar a todos enquanto se anula silenciosamente? Talvez tenha se identificado com a chamada Síndrome da Boazinha, um termo popular que tenta explicar esse padrão — mas que muitas vezes encobre uma verdade mais profunda.
Na superfície, parece nobre: ajudar, cuidar, estar sempre disponível. Mas por trás dessa atitude pode habitar uma emoção difícil de admitir: a arrogância.

Sim, aquela que se desdobra por todos pode não estar movida apenas por compaixão, mas também por uma necessidade inconsciente de manter sua imagem de "boa", "forte", "incansável". É como se dissesse ao mundo: vejam como sou indispensável. E é justamente aí que mora a sombra.
A boazinha pode não estar sendo bondosa, mas sim evitando o desconforto de se ver falível, limitada, comum. Ela não suporta decepcionar. E, para sustentar esse ideal, se sobrecarrega. Quando o corpo adoece, ou a alma entra em colapso, vem a narrativa: as pessoas abusam da minha bondade. Mas e se, no fundo, for ela quem abusa de si mesma em nome da aprovação?
Na psicologia junguiana, chamamos isso de persona inflada: uma máscara social que tenta compensar o que não queremos ver em nós. Quanto mais perfeita essa máscara, mais distante estamos da inteireza.
A verdadeira cura não está em dizer não só para os outros, mas em dizer sim para a própria sombra. Reconhecer que nem sempre ajudamos por altruísmo — às vezes, ajudamos por medo de sermos rejeitados, criticados, esquecidos.
Não é fácil olhar para isso. Mas é libertador.
A questão não é parar de ser boa, mas descobrir para quem você está sendo boa: para o outro ou para a imagem que construiu de si mesma?
Com carinho,
Ana Cristina.
Psicóloga Junguiana






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